Escrever um artigo sobre o que baixar um livro em pdf significa para um autor é algo que já estava na minha lista há meses. Eu pensei que escrever sobre o assunto seria coisa fácil, mas quando fui fazer a minha pesquisa, entendi que baixar livros em PDF é um assunto polêmico. Então aqui vai a minha opinião.
Por que uma pessoa baixa livro em PDF?
Primeiro de tudo é bom contextualizar a discussão, sobretudo se existe um risco de polêmica. Eu sou da opinião de que brigar é sempre um desperdício inútil de uma energia preciosa que poderíamos investir em outra coisa. Isso posto, fica aqui o aviso: as opiniões expressas aqui são as minhas e eu estou aberta ao debate desde que ele seja feito passivamente e no respeito.
Pois! Por que ao meu ver a gente tende a buscar um livro em PDF ao invés de comprar o objeto livro? As principais razões se resumem a duas:
- O preço dos livros originais
- A falta de estruturas adaptadas de empréstimo (o vulgar “bibliotecas”)

Eu frequentei a universidade pública no Brasil e na França. Também frequentei a escola na Bélgica e sei que a diferença em termos de hábitos de leitura e de consumo de informação é gritante de um continente para o outro (e de um país para o outro). Na Europa, tomarei para estudo de caso a França, onde cursei licenciatura e mestrado. O país de comparação será naturalmente o Brasil.
Na faculdade francesa, lendo 3 livros por curso (tendo 8 cursos por semestre), ou seja 16 ao ano, com entregas semanais de trabalhos de pesquisa e provas duas vezes por trimestre, eu talvez tenha gasto 50 euros, numa época em que a relação era mais ou menos 3 reais = 1 euro. Ou seja, o tudo tendo custado 150 reais por semestre em livros novos e originais.
Quando eu cursei o primeiro semestre de Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista, já de entrada, o xerox do curso de Política Externa brasileira (um dos créditos que eu tinha), custou-me 80 reais. E eu falo de xérox de trechos de livros que a gente na época encadernava e arrastava consigo para a aula de apenas UM curso.
A diferença é gritante. Se esse é o preço do xerox, eu não ouso imaginar o preço do livro. Mas na verdade, eu sei. O livro A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawn, que eu cheguei a comprar, custou-me já na época 110 reais. É claro que eu busquei alternativas enquanto estive no Brasil e estou feliz de não ter que fazer mais isso.
Isso nos faz esbarrar em um segundo problema: a falta de estrutura. Não pense que o meu mestrado em Paris se restringiu aos livros que eu comprei apenas. Se eu te mostrar a referência bibliográfica do meu trabalho de mestrado, você vai entender que eu li muito. Mas o segredo para não falir enquanto se estuda é justamente a biblioteca. Em Paris, as bibliotecas são impressionantes, tanto do ponto de vista do acervo quanto do ponto de vista da estrutura. Aqui na Bélgica, ainda que com outra mentalidade, as bibliotecas municipais são tão eficazes quanto. Ou seja, para mim a prioridade nacional está clara tanto na França quanto na Bélgica: a educação.
E no Brasil?
Quem frequenta a universidade pública no Brasil tem acesso a ótimas bibliotecas (eu falo porque frequentei a Unesp e a USP). E quem frequenta não a universidade mas a escola pública nacional? Se esse aluno tiver sequer uma cadeira limpa para se sentar, ou um professor para lhe ministrar um curso, consideremos o dia ganho. Acho que estamos começando a concordar que a diferença é estrutural e, como diz Sérgio Buarque de Hollanda, no seu clássico Raízes do Brasil, profundamente histórica, que apenas anos de educação constante e persistente vai consertar.
O que baixar livros em PDF significa para o autor?
Não acho grave para uma população desprivilegiada em buscar o conhecimento e a cultura tecendo essas redes de compartilhamento periférico. O que é grave é a falta de estrutura que, eu ouso dizer, vem de par com toda uma mentalidade que ainda deve se desenvolver em torno do que a gente chama de propriedade intelectual e direitos autorais. Ao pesquisar esse assunto para escrever o artigo, eu esbarrei em todo tipo de crítica: o monopólio e abuso das editoras, a máfia das prestadoras de serviço nascendo igual erva daninha num jardim já debilitado, o preço dos livros, a busca pela cultura que é algo natural nas pessoas que desejam se desenvolver…
Eu sou autora independente. Quando as pessoas me pedem para enviar o livro em PDF pelo WhatsApp, eu confesso que re-dirijo a pessoa para o link de compra dos meus livros. Ao meu ver, existem limites a não serem ultrapassados. A produção dos meus livros significou tempo, investimento e custou-me dinheiro. O meu trabalho de autoria não é uma secretaria de serviço social. Nos meus livros, você não somente degusta uma história que te prende do começo ao fim, mas também aprende sobre a espiritualidade, como por exemplo, sobre Ayurveda, sobre Mandalas. Os meus livros, o meu trabalho é um trabalho como qualquer outro. Eu mereço receber por ele.
Distribuir livros em PDF é para mim uma faca de dois gumes: se olharmos pelo ponto de vista do compartilhamento, a iniciativa é fantástica e inevitável. Ela também é a tendência do futuro. Aliás, ela faz parte da vulgarização científica que o advento da internet nos trouxe. Por outro lado, distribuir sem autorização e conhecimento do autor é pirataria. Como autora, eu posso dizer que é uma sensação extremamente desagradável de encontrar um possível leitor interessado no seu livro apenas se ele estiver em PDF. E essa é, infelizmente, a situação da maioria do leitorado brasileiro.

Então como adaptar essa tendência ao favor do autor?
O fato, autor, é que a estrutura errônea é tão imensa, tão gigantesca, que o seu leitor já vem cozido com essa mentalidade, como dizemos em holandês. Ou seja, revoltar-se contra esse sistema não somente denota a falta de zen attitude como gasta a sua preciosa energia à toa. Você acha que os grandes nomes como Paulo Coelho, Richard Bach, Jen Sincero, Kundera, Dan Brown e outros não enfrentam o mesmo problema? É claro que sim! A diferença entre eles e você é que eles souberam contornar a situação (ou seus agentes e empresários).
Então, como adaptar essa tendência ao favor do autor? Além das técnicas simples de marketing para autores, eu lhe dou mais um macete para converter toda essa massa em leitores potenciais que vão comprar o seu livro e te recompensar pelo trabalho de escrever.
Acontece que os canais de pirataria constituem entre outros redes de difusão e exposição para você e para o seu trabalho. Vale aqui o ditado: Se não pode contra eles, una-se a eles! Quando for colocar o seu livro na rede, certifique-se de que no arquivo do livro tem um botão social, algo que traga o leitor interessado mais para perto de ti, autor. E quando ele chegar, é sua responsabilidade entretê-lo, convertê-lo em possível leitor comprador. Não se esqueça, autor, de que cada leitor deve ser tratado como um melhor amigo. Interesse-se de verdade ao seu leitor. E você vai sentir vontade de fazê-lo, apenas porque ele leu o seu livro e quis ficar perto de você.
Dois presentes para você
Se os seus livros se encontram nas redes de pirataria, ou se você é abordado por gente que te pede o livro em PDF, eu sugiro que você adapte a sua estratégia de exposição e divulgação. Lembre-se de que não existe apenas a Amazon para publicar. E se você leu até aqui, você merece receber dois presentes: a dica de ouro que vai converter todos os seus leitores em potenciais compradores é implementar uma estratégia de longo prazo: a da educação. A solução é educar o seu leitorado, na perfeita consciência de que, tal uma planta, a semente da educação germina com o tempo.
O segundo presente que eu quero te dar, por ter chegado até aqui é o meu e-book gratuito, Como escrever um livro em 3 meses, best-seller durante meses na categoria de manuais de edição do Amazon. Para recebê-lo, basta me dizer para que e-mail você quer que eu te envie ;-).

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