Uma das técnicas de storytelling é a escrita sinestésica. Esta é mais do que uma figura de linguagem usada para criar estilo escrito. Trata-se de uma das técnicas de storytelling para enriquecer e adicionar textura à história. Para nós autores, ela visa um objetivo em prioridade: fazer o leitor experimentar a história como se ele a estivesse vivendo na pele. Porque ao escrever um livro, uma história ou criar conteúdos em geral, a palavra é EXPERIÊNCIA. É na experiência do leitor que o escritor deve focar ao conceber uma história. Um bom autor sabe disso e o leitor considera que a história é boa através de dois critérios inconscientes. O primeiro critério é o da transformação e o segundo o da imersão. Uma história faz arrepiar os pelos do leitor, salivar a sua boca, dar calafrios na sua espinha dorsal, sentir borboletas no estômago ou cócegas na barriga ou sentir aquele perfume de eucalipto e rosa ao se sentar para ler.
O que é a escrita sinestésica?
Mas o que é a escrita sinestesia, então? A definição de sinestesia segundo o dicionário Priberam da Lingua portuguesa é:
si·nes·te·si·a
(grego sunaísthesis, -eos, sensação simultânea, percepção simultânea)
substantivo feminino
1. Produção de duas ou mais sensações sob a influência de uma só impressão.
2. [Retórica] Figura de estilo que combina percepções de natureza sensorial distinta (ex.: sorriso amargo).
“sinestesia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/sinestesia [consultado em 12-10-2021].

Escrever de maneira sinestésica é antes de tudo escrever convocando os órgãos do sentido. O exemplo do dicionário diz: boca amarga, sorriso amarelo, silêncio gritante, etc. Também podemos confundi-la com a antítese e com o paradoxo, na medida em que cruzamos palavras contrárias. Foquemo-nos no que você precisa saber para escrever um bom livro.
Aplicar a técnica da sinestesia é mostrar o lado da sensação física do personagem de maneira a servir o único propósito de fazer a sua história avançar. Complexo não? Primeiro de tudo, entenda que a escrita sinestésica não foge à regra do mostrar ao invés de contar. Esse é o princípio que rege todas as interações bem-sucedidas nesse planeta (sem exagero). Segundo, entenda que o texto sinestésico foca na expressão dos órgãos do sentido. E terceiro, saiba que o que é mostrado na cena serve ao único propósito de motivar a intriga. Apenas isso. Acabou a história da encheção de linguiça. Faz avançar, mantém! Não faz, joga fora! Simples assim.
Para nós, autores, escrever de maneira sinestesia é fazer como se você estivesse dentro da cena, na pele dos personagens e o que acontece com eles é sentido e acontecido com você. Apenas entrando na pele do personagem, o autor consegue transmitir uma sensação de realidade para o leitor. E esta é a parte mais difícil porque exige uma conexão íntima com o personagem. E esse grau, não são todos que atingiram ainda.
A escrita sinestésica é uma poderosa técnica de storytelling
A escrita sinestésica é uma poderosa técnica de storytelling. Como fazer o leitor sentir o gosto, o medo, o amor dos personagens no seu próprio corpo? Como levar o leitor a experimentar a história que está gravada numa folha de papel, insípida por natureza? Para os que querem escrever um bom livro, a escrita sinestesia é uma ferramenta que o autor deve aprender a usar.
Privilegie, por exemplo, verbos como sentir, degustar, tocar, arrepiar, cheirar. Um truque de profissional é usar o que eu chamo de objetos de características chocantes. Por exemplo, pense no limão prestando atenção no que o simples fato de evocar esse alimento já evoca uma sensação no seu corpo. Ou pense no cheiro do vinagre. Que sensação ele te traz? Pense ainda na luz do sol. Você consegue olhar direto para ela? Use todas essas sensações para criar e alimentar bons personagens.
A técnica oculta da escrita sinestésica no storytelling
A parte fácil da tarefa é simplesmente entender que as palavras são carregadas de sentido. Usando o sentido primeiro das palavras, ou seja, o seu sentido literal, você consegue evocar sentimentos e sensações no leitor. Mas é apenas usando palavras apuradas que você conseguirá manusear um texto com maestria e criar a sensação que o leitor busca em primeiro lugar: a sensação de realidade da história, de escapar da realidade dele e entrar num mundo onde ele está autorizado a sonhar. A parte difícil é que, antes de se chamar de autor, o escritor deve aprender a usar as palavras no seu sentido correto, literal, antes de partir para o figurado e sair cruzando sensações, levando ao leitor uma multitude de sensações que ele não quer sentir. Lembre-se de que você está mexendo com outras pessoas. Nada de sair criando sensações sem pedir autorização para elas ou elas logo fecharão o seu livrinho.
A primeira coisa antes de aplicar essa técnica para trabalhar a linguagem sinestesica é se assegurar de que seu texto está compreensível no sentido literal. Antes de pensar em cenas bem construídas, plotting e tudo isso, desenvolva o hábito da leitura e cure o seu português. Pensar em cenas bem construídas, com ganchos antes, durante e depois de passar para a cena seguinte, mas que ela serve ao avanço da trama e encanta o leitor é ótimo, sim, mas primeiro, assegure-se de que sabe usar as palavras. E eu insisto no significado que elas carregam, na chamada massa conotativa que cada uma recela em seu corpo gráfico. Essa é uma base que você precisa construir antes de tudo. Isso se faz com a dica clichê da leitura e do hábito da escrita. Vire amigo do dicionário. Apenas assim você poderá empregar corretamente essa poderosa técnica de storytelling: a escrita sinestésica.
O que lembrar da sinestesia como técnica de storytelling?

A sinestesia, quando bem usada, aumenta a sensação de realidade de um texto. Porque é essa uma das maneiras de fazer o leitor se importar com o que acontece com o personagem: é implica-lo na história. A escrita dos sentidos é por esse motivo, uma ferramenta a se aprender.
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2 comentários em “Técnicas de storytelling: a escrita sinestésica”