Por meio da escrita quotidiana, todos os dias, guardando um traço da sua evolução, da hora que você tem o hábito da escrita, da quantidade de palavras que você escreve por dia, é possível sentar-se e escrever até 2500 palavras em uma hora. E digo isso porque eu mesma fiz. E eu digo porque quando eu sento para escrever, eu sento e escrevo numa tacada só essas 2500 palavras.Você também pode fazê-lo. Nesse artigo, eu lhe direi exatamente como fazer para chegar nesse ponto e sair da sua escrita mais energizado e mais leve.
- Sua escrita é coisa séria.
Antes de começar a entrar no cerne da coisa, acordemo-nos sobre algo: sua escrita é o que mais importa. Um consenso que existe entre os escritores que fazem parte da minha vida e do espectro da minha existência profissional é o de que a escrita é a única coisa mais importante que fazemos. O resto é resto. É acessório. Por esse motivo, quando sentar para escrever, leve a sério o processo criativo e não permita que nada entre no seu caminho entre a escrita e o papel. Nada. Desligue o telefone, coloque o “não perturbe” na porta e proíba o filho de entrar para pedir algo.
Isso dito, passemos à técnica que me permitiu chegar a esse número de palavras por dia:
- Guarde uma progressão gráfica de todos os dias que você escrever (e escreva todos os dias, isso é inútil falar!)
Isso mudou a minha vida: trabalhar em sprints, ou seja, em intervalos de 20 minutos nos quais eu apenas escrevo e nada mais e anoto quantas palavras eu escrevi. Eu faço normalmente de 4 a 6 por dia. Assim, eu chego a quase 4000 palavras escritas e a mais de 10000 editadas.
- Comece!
Escrever é um hábito que se adquire, contrariamente ao que eu ouço das pessoas, escrever é um hábito e não um dom. Existem pessoas mais aptas para esse hábito do que outras. Mas qualquer pessoa pode aprender a escrever.
O hábito da escrita, se você tem essa vontade, pode ser nutrido, alimentado até que atinja maturidade e o escritor floresça. Mas para isso, é necessário começar por algum momento.
- Não se assuste com o que escrever.
Talvez o começar seja o mais difícil. Porque ele ainda esta intimidado pelo papel branco, depois pela quantidade de trabalho que ele estima que terá ao produzir uma história; em última instância, ele pode se deixar intimidar pela natureza do fóssil arqueológico que acabou de encontrar, como diz Stephen King. O fóssil pode ser o que o escritor menos esperava.
- Abrace a escrita se for isso que quiser fazer.
Isso vale para tudo. No meu caso foi a vida de escritor. Após ler muitos livros sobre o processo da escrita (eu comecei lá em 2011, quando joguei tudo para o alto e fui para Paris), deixei a vaga na faculdade pública, o curso sem terminar, o apartamento, o carro, com algumas poucas economias que eu tinha no banco, sem diploma, mas confiante em uma única coisa, eu me lancei nessa busca: a busca por me conceber uma existência confortável através dos livros.
Primeira experiência: eu quebrei a cara! Claro, como poderia deixar de ser? Saí disso machucada, deprimida, sem saúde mental e psicológica, e um vazio profundo n’alma, mas a sensação de que aquilo tinha exposto um grande demônio meu. A dor e o sofrimento eram o meu maior trunfo: a minha história. Assim, nasceu o livro Cidade das Mandalas, que carrega a marca das minhas cicatrizes durante o tempo em que eu vivi em Paris.
No meu último ano na cidade das luzes, eu ia todos os dias escrever no Starbucks. Munida de um micro-computador que cabia na minha bolsa, eu já nem mais ia assistir aula na Sorbonne. Apenas uma coisa importava para mim: a história que eu queria contar, sobre aquela moça que eu via na cabeça, e que depois de muitos nomes, passou a se chamar Kundalini, nome da força tântrica que dá origem à vida.
Por vezes passava o dia inteiro no Starbucks e não saía uma palavra. Outras, eu me perdia e escrevia páginas. Mas sem uma constância. Eu passei tanto tempo tentando escrever meu primeiro livro que por vezes nem acreditava que um dia conseguiria escreve-lo. Seis anos mais tarde, no começo da pandemia, após várias tentativas de terminar essa história, eu enfiei na cabeça que aquela era A ÚLTIMA chance que eu me daria para lançar a carreira de escritora, sentei a bunda na cadeira, frente ao computador e em três meses, eu estava carregando o documento editado, validado pelo maior estúdio de storytelling em Língua Portuguesa, lido por betaleitores, prontinho para para a apreciação dos leitores. Para saber mais sobre o processo, veja o meu livro Como escrever um livro em 3 meses.
- Estabeleça uma cadência
A minha vida mudou depois que eu entendi que tinha que escrever todos os dias. Não porque necessariamente queria mas porque isso virou uma necessidade.
Durante o meu primeiro livro, eu obviamente não tinha ideia do que estava fazendo. Lancei-me às cegas, sem saber nem como escrever uma descrição de produto. Sem saber como fazer uma capa. Um ano após, cá estou eu, quatro livros publicados, dois no forno para esse fim de ano. Eu não digo que é fácil, mas sim que criei um hábito de escrita que agora eu olho para trás e não consigo mais me ver fazendo outra coisa além dos meus livros.
Uma coisa é fato: quando você começa, talvez desconheça a ideia do hábito da escrita. O poder da única coisa, da concentração, mas ele está lá.
O hábito é como uma postura de yoga: através do exercício, ele se instala. Com a prática, ele se aprofunda. E com a redenção total ele penetra a sua composição mais íntima e faz uma diferença tanto em você quanto no mundo ao seu redor. E por meio de uma reação em cadeia, aquele pequeno gesto tem o poder de alterar a última estrela da galáxia.
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