Quando a temperatura baixa, as folhas começam a se descolorir e aquela começo de inverno começa a se mostrar, a minha criatividade aumenta. Não necessariamente para escrever livros. Isso vem mais para o mês de abril ou maio, quando o tempo começa a esquentar aqui na Bélgica. Nessa época do ano, novembro/dezembro, estamos em pleno outono e me dá vontade de fazer mais coisas, concretizar mais projetos, correr atrás de metas que eu desejo realizar. Mas sobretudo, o que me deixa mais feliz é saber que eu sinto uma energia, como a correnteza de um rio que me carrega. Os meus pensamentos se desaceleram, a minha cabeça esfria e eu sinto um alongamento na frequência do meu cérebro, como se este me dissesse: faz tudo o que puder porque o inverno está chegando.

Acontece que assim como a natureza, a criatividade também têm seus ciclos vitais. Não que morra. Enquanto tiver alguém vivo para se desenvolver, a criatividade vai se incrustar. Mas ela segue os ciclos naturais e, enquanto para muitas pessoas é difícil escrever no verão (como para mim, por exemplo, eu sinto uma moleza sem precedentes nesta época do ano), para outros é difícil sair da cama quando está 3 graus negativos lá fora. É normal.

Mas o que fazer para continuar criativo mesmo quando os ciclos naturais parecem baixar o nível de energia?

Aqui estão algumas astúcias que eu testei e que funcionam para mim. Antes de entrar no suco da coisa, eu quero deixar uma ressalva aqui: para aqueles que não me conhecem, existe apenas uma coisa que eu faço passar na frente da paixão pela escrita: a saúde é a minha ditadura do corpo. É o meu corpo que manda. Permaneça à sua escuta se ele disser que é hora de parar. 

Astúcias para continuar criando, mesmo em tempos de blues ou bugs criativos:

  1. Escreva à moda do diário. Sem pressão. Para você mesmo. Porque escrever é prazeroso. Porque quem vai ler é você e ninguém mais. A Gabrielle Chanel, fundadora na marca Chanel criou seu primeiro chapéu nesse espírito. Ela não se colocou pressão nenhuma. E foi assim como uma das suas criações: o perfume n°5, cujo nome ela inventou na hora, olhando o número da amostra. O vestidinho preto “la petite robe noire” que ela vestiu sem se preocupar com ninguém porque estava de luto com a morte de Boy Capel, o grande amor da sua vida. Assim deve ser a sua escrita: livre de restrições (pelo menos, do que é o primeiro manuscrito). Para mais dicas sobre como escrever os manuscritos seguintes, clique aqui.
  2. O bug criativo pode vir por muitos motivos diferentes, mas um deles, de grande importância, é a falta de existência palpável da história que você está vendo. Isso é normal. Todo escritor vive isso. É preciso trazer as imagens para a realidade além do papel. Ou seja, para a existência palpável de carne e osso. Isso você só faz escrevendo e reescrevendo. Escrever é reescrever. Não se esqueça.
  3. Deixe-se inspirar pela vida na natureza. A mudança de temperatura e de estação é na verdade um movimento vital da natureza que nos afeta na nossa composição mais íntima. Quando sentir estes panes de criatividade, simplesmente saia e vá dar uma caminhada. Volte quando estiver com a cabeça arejada e escreva sobre o que viu na floresta, no seu jardim ou mesmo na rua. Preste atenção em particular na natureza. Tente ignorar as questões como poluição ou como a natureza se perdeu no meio da civilização. Os grandes best-sellers construem o ciclo e a jornada do herói espelhando-se da jornada da natureza e este é um dos componentes estruturais de um best-seller.
  4. O truque é entender que TUDO o que existe é fonte para a inspiração: desde a folha que cai d’árvore até os pêlos que saem para fora do nariz do seu vizinho. A folha caindo pode significar o início de uma batalha. O vizinho de nariz peludo pode ser um personagem de uma comédia que estas a escrever.
  5. Nunca esqueça a visão que tem para a sua história. O que me carregou durante estes seis anos em que eu escrevi o Cidade das Mandalas foi justamente a visão que eu tinha e que queria imprimir à minha história: a vontade de ajudar as mulheres em relacionamento abusivo, a vontade de entender o que era aquela alma de Paris e sobretudo passar uma mensagem de transformação.

E você? O que faz atualmente para combater estes panes de criatividade?    


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7 comentários em “Criatividade e a mudança de temperatura

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