Existe algo no fato de trabalhar com as plantas que relaxa. E relaxar é exatamente do que precisamos para que a criatividade flua.
Você já experimentou esse sentimento em que você está tão concentrado criando algo, tão conectado com a criatividade que não viu o tempo passar? Se sentiu tão livre que até pensou que pudesse voar? O tempo pelo menos voou e você esta satisfeito com o que criou?
Pois bem, momentos assim são difíceis para o escritor iniciante, cheio de bloqueios e de inseguranças, o escritor que não sabe bem de que se trata escrever um livro. Eu passei por lá. Todos passamos. Para escritores já formados, que exercem a profissão como ofício, esse transe criativo é mais fácil de encontrar, porque o escritor sabe identificar os seus sinais, sabe como lidar com o momento, como alongá-lo o maior tempo possível. Tanto para o iniciante quanto para o experiente, manipular tais momentos é simplesmente uma questão de tenacidade e habilidade que se desenvolve. E a jardinagem é um macete para criar estes momentos.
A técnica é simples: quando se sentir cansado após momentos criativos intensos, simplesmente vá cuidar de uma planta.
Quando eu escrevi o Cidade das Mandalas, o ano foi tão bom para quem queria trabalhar no jardim. Era como se a Terra nos disse o sinal para parar de trabalhar e ir aproveitar da vida. Algo muito estranho e curioso que deixou muita gente pensando aqui na Bélgica, tenho certeza.
Na época, eu ainda estava tentando entender como escrever, ainda não conhecia os macetes que conheço agora que tenho quase dois anos de experiência do ofício em tempo integral e dez anos exercendo a profissão a título complementar. Mas eu sabia de uma coisa: cuidar das minhas plantas era algo terapêutico, quase como cozinhar. Eu sentia uma relação que se assemelha à cumplicidade que sinto com a minha família. Muito estranho falar disso assim, mas é a verdade. Quando eu estava podando os meus pés de tomate (que floresceram de uma maneira incrível ano passado), eu estava muito perto deles, sentia o cheirinho de tomate fresco, direto da planta. Algo químico se produzia no meu corpo, eu sentia aquele cheiro entrar no meu corpo e me relaxar inteira. Como se algo se soltasse em mim.
Eu fiquei tão tocada com esse fenômeno que usei-o no meu livro, Mandala de fogo.
Se você não tem um jardim, apenas uma varanda, experimente colocar um suporte para plantas. Você pode usar qualquer tipo. Eu recomendo que coloque ervas aromáticas porque estas são remédios que a natureza nos oferece de maneira gratuita. As que eu prefiro são alecrim, tomilho, lavanda, orégano, salsinha e coentro. Tenho todas no meu jardim e as uso para cozinhar. Escolhi essas que sobrevivem o duro inverno europeu por uma questão prática. Mas após quinze minutos que seja cuidando das plantinhas, a gente retorna revigorado para o computador e escreve de uma taca só 2000 palavras. Tente fazer o experimento.
E você? O que faz para aumentar a sua criatividade e poder voltar para o manuscrito?