Hoje a gente vai conversar com o Lucas Ribeiro, ilustrador e designer responsável pela capa da nova edição do Cidade das Mandalas.

Nessa entrevista vamos conversar sobre dopamina, marketing, capas de livros e o que você como autor independente precisa entender sobre o básico de design antes de lançar e divulgar o seu livro.

Você pode se apresentar para que os nossos leitores o conheçam melhor?

Lucas Ribeiro: Meu nome é Lucas Ribeiro, 31 anos, sou designer e ilustrador e moro em São Paulo. Adoro criar ilustração, capa ou diagramação para projetos editoriais, pois desde pequeno sou fascinado por worldbuilding (mesmo antes de saber que esta palavra existia). Já criei projetos editoriais e publicitários no Brasil e no mundo para clientes como Google, Governo do Estado de São Paulo, Sorridents, IMB: International Mission Board, Krita Foundation entre outros. Desde capas de livros à artes para jogos de tabuleiro, de mascotes à embalagens e outdoors, de interface de aplicativos mobile à websites.

Por que a capa de um livro é importante para o marketing? O que uma capa pode oferecer? Como? E se um autor já soubesse do potencial de uma capa bem feita ao invés de ficar perdendo tempo e bater a cabeça?

Algumas da capa que Lucas criou.

Lucas Ribeiro: A capa do livro é a primeira experiência que o leitor terá. É a porta de entrada para este mundo que o autor criou. A primeira impressão é muito importante para “fisgar” a audiência. É essencial para o autor independente ter em mente qual o tipo de “porta” a obra possui.

Acredito que o objetivo primário da capa é fazer com que o espectador dê uma segunda olhada no livro. Com uma segunda olhada este leitor em potencial vai pegar o livro na mão ou clicar na imagem da loja virtual. Acho que isso pode resumir toda a filosofia e complexidade do que a capa significa.

Vamos pensar no método AIDA (Atenção – Interesse – Desejo – Ação) de vendas para isso. Primeiro captamos a atenção do leitor com a nossa capa. O interesse dele deve aumentar tanto com o conteúdo da capa e contracapa o que o leva a sinopse. E aqui ele desenvolve o desejo (e a dopamina necessária) que por fim o leva a ação, que é ler, clicar ou comprar o seu livro!

Lucas usou uma mistura de vetor e pintura para criar esta capa.

Quando você começou a se interessar por marketing e identidade visual?

A Árvore do Sonho de Elson Malvão, foi um dos primeiros livros infantis que Lucas Ribeiro ilustrou.
“A Árvore do Sonho” de Elson Malvão, foi um dos primeiros livros infantis que Lucas Ribeiro ilustrou.

Lucas Ribeiro: Eu comecei a desenhar de verdade quando tinha uns 13 anos. Mas quando fiz 14 desenvolvi Diabetes Tipo 1 e foi preciso desde então tomar de 3 a 4 injeções diárias de insulina. Como passei a tremer mais que o normal, desanimei e larguei do desenho por um tempo.

Mas foi durante o ensino técnico (Cursei Técnico em Mecatrônica na Etec Jorge Street em São Caetano do Sul) que eu percebi que tinha interesse e facilidade muito maior em apresentar e fazer o marketing dos projetos mecânicos e robóticos ao invés de sua montagem ou  manutenção. E outros grupos faziam propostas para eu criar o material de apresentação e divulgação de seus respectivos projetos. A elaboração dos croquis, a criação de animações 2D que passavam no telão do auditório e até mesmo o material impresso para os estandes dos eventos passaram a ser muito mais interessantes para mim que a Mecatrônica em si.

Alguns anos depois, atuei como agente de marketing terceirizado para um conhecido banco de origem espanhola e lá aprendi bastante sobre comunicação e scripts e em alguns meses fui promovido para uma célula chamada Elite de Vendas. Passava o tempo livre rabiscando mundos e personagens. Nessa época passei num concurso público para trabalhar na área da educação em escolas e deixei este trabalho.

Alguns anos depois, quando eu ainda era funcionário público no ABC paulista, usando o que sabia sobre vendas e network, enviei alguns esboços do personagem para uma editora e fui chamado para o projeto. fechei um contrato de ilustração para a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Criei um mascote (o Gefinho) para o Grupo Estadual de Educação Fiscal, o GEFE e vendi os direitos do personagem. Ele foi e é muito utilizado em cartilhas, eventos (como a Bienal do Livro) e treinamentos desde então. 

Depois de alguns meses deixei de ser funcionário público, passei a estudar mais e trabalhar exclusivamente com ilustração e design e decidi empreender na área, criando materiais de divulgação, fossem impressos ou online, para empresas de diversos segmentos. Algumas vezes usando a ilustração como diferencial. 

Na sua opinião, qual é o maior problema que os autores encontram no marketing? Como eles o solucionam? E como você acha que eles deveriam solucionar este problema?

Capa que o Lucas criou, o estilo tipográfico e fotográfico contrasta com o costumeiro ilustrativo. Tudo depende do projeto.

Lucas Ribeiro: O maior problema para a maioria é saber vender. Muitas pessoas que são boas em suas respectivas atividades, não sabem como valorizar os seus produtos ou serviços e fazer o marketing. 

Marketing é comunicar a mensagem certa, para o mercado certo e na mídia certa. São 3 elementos para acertar, é simples mas não é fácil.

Você não vende o que você oferece. Você vende o problema que você resolve. É importante repetir isso aqui. Você precisa vender o problema que você resolve. 

“Marketing é comunicar a mensagem certa, para o mercado certo na mídia certa. “

Mas como vender livros de ficção/entretenimento? Vendendo a experiência que o leitor terá, usando de gatilhos para emoções. E talvez a transformação que ele terá como leitor, mas sem dar spoiler. Alguns autores contam a história inteira na sinopse ou orelha do livro.

Outro problema que pode surgir é o autor não conseguir encontrar profissionais competentes e comprometidos para materializar os seus projetos.

Capa que o Lucas Ribeiro ilustrou para a antologia Alice in Horroland.
Kiss: A Maldição do Rei dos Vampiros onde Lucas assinou o projeto gráfico e ilustração de capa e dos marcadores de livros.

Você criou a capa para a segunda edição do livro Cidade das Mandalas, que está sendo lançada este mês. Como foi o processo?

Lucas Ribeiro: Para criar a capa do Cidade das Mandalas, eu precisei coletar os elementos principais da história e ainda inserir na capa um pedido que a autora me forneceu no briefing (que era o de a torre Eiffel aparece curvada na capa, pelos acontecimentos fantásticos que ocorrem na narrativa) e juntar tudo isso num único conceito. Yoga, budismo, cultura indiana e a Torre Eiffel curvada desafiando as leis da física. Como juntar tudo isso?

Alguns testes de variantes antes de optar pela na versão final.

Pensei em alguns conceitos, fiz alguns testes. Lembrei do filme Inception, com Leonardo DiCaprio e do poster que tinha um conceito similar. Optei por trabalhar com arte vetorial, com silhuetas. E torcer a Torre Eiffel (representada como silhueta) não funcionou esteticamente para mim. Então pensei em representar e dispor todos os elementos dentro da dinâmica de uma espiral desafiando as leis da física com a personagem feminina iluminada como figura central numa posição de yoga, como sugerido pela autora Nayara Van Dike, o que não apenas dá equilíbrio a composição como a personagem se torna a protagonista de sua própria história, dentro de um turbilhão numa metáfora visual. Acrescentei um aglomerado de estrelas e as borboletas que representam a transformação. Optei por uma paleta de cores contrastantes entre si e que remetesse ao por do sol.

Tatiana, do Blog Tatianices com o exemplar dela do Cidade das Mandalas.
Capa final do livro Cidade das Mandalas, escrito por Nayara Van Dike e ilustrado por Lucas Ribeiro.

Como a capa de um livro é importante? Tanto para o marketing quanto para o patrimônio e legado do autor?

Lucas Ribeiro: Como pode haver reimpressão por outra editora ao longo do tempo e até mesmo capas alternativas para um mesmo livro, eu acredito que o legado fica por conta de uma ligação afetiva que o leitor pode ter com um livro com uma versão de capa específica. Como um marco.

Sobre a importância da capa: ela é o primeiro contato que o leitor terá com sua história, o chamariz, a porta de entrada. Gosto de pensar nas capas como análogas aos pôsteres de filmes; não necessariamente precisa existir apenas uma única versão, mas ela precisa ser distinta. Então dá pra dimensionar a importância que ela carrega, principalmente para livros independentes.

Lucas Ribeiro desenhou a capa, a tira em quadrinhos e diagramou esta edição limitada e paralela da Piauí, um projeto universitário da jornalista Flávia Leão.

Que elementos você considera importantes ter na capa bem feita? Por quê?

Lucas Ribeiro: Ela precisa comunicar uma mensagem. Que mensagem será, que sentimento passará, isso vai variar muito da proposta do livro e do projeto. 

Contraste é essencial para fazer uma capa bem feita, sempre. E você pode conseguir contraste de diversas maneiras, não apenas com cor. Use dos outros elementos básicos do design como linha, textura, ponto, formato, espaço e escala

Fontes bem escolhidas e bonitas também são essenciais. E aqui você precisa deixar seu gosto pessoal de lado e entender o básico de tipografia e o projeto para fazer boas escolhas. Considere o todo e como tudo funciona junto!

Capa e Diagramação criados para uma curta aventura que ele escreveu e ilustrou para um evento online do RPG de mesa de Star Wars da Fantasy Flight Games.

Que ferramentas você usa para criar os seus projetos?

Lucas Ribeiro: Uso principalmente a suíte Affinity (Affinity Photo, Affinity Designer e Affinity Publisher) ao invés da suíte Adobe, que deixei de usar há quase 5 anos. Eles são os equivalentes ao Adobe Photoshop, Illustrator e InDesign, respectivamente. Para o Cidade das Mandalas trabalhei utilizando o Affinity Designer.

Para desenho (além de papel, lápis e nanquim) e pintura digital, gosto muito do Krita e do Clip Studio Paint. 

Ilustração de Lucas Ribeiro para um projeto pessoal de uma história que ele escreveu.
Desenho de Don Corleone, de “O Poderoso Chefão”.
Ele imaginou e ilustrou como seria um Pug de Don Corleone.

Onde as pessoas podem te encontrar?

Lucas Ribeiro: Se estiver andando numa livraria de São Paulo, uma hora você vai esbarrar comigo folheando livros ou perguntando para algum vendedor se chegou algum material novo de RPG.

Agora também sou um dos administradores da comunidade O Jornal dos Autores. Me encontrem lá.

E claro, também nas minhas redes ou pelo meu e-mail, fiquem à vontade para me contatar. Estou começando um novo Instagram e lançando um novo canal no YouTube voltado para ilustração e design que leva o meu nome, tem muita coisa no forno já na edição. Aguardem.

7 comentários em “Dopamina, Capas de Livros e uma conversa com Lucas Ribeiro.

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