As nossas melhores ideias surgem do que a vida tem de mais simples. Já aconteceu com você de estar andando pela rua e simplesmente não achar mais o seu caminho? Comigo foi assim…

Eu estava andando em Paris. 

A cabeça baixa. 

No meio do outono, a temperatura baixava cada dia mais, mas as minhas mão suavam frio.

Já tinha dias que eu não me sentia bem. 

A minha cabeça rodava.

O respirar tinha ficado dolorido por algum motivo.

A dor no peito que eu sentia perfurava o meu corpo com cada inspiração.

No coração, uma sensação de peso.

De falta de alinhamento. 

De falta de chão.

Falando em chão… algo tremeu sob os meus pés.

Eu olhei para baixo.

Em pleno meio-dia. 

O que era aquilo?

— A gente sente o metrô passando aqui, mãe. — Fez uma criancinha ao meu lado, segurando a adulta pela mão. 

Para o meu alívio, eu não estava imaginando coisas. Ainda!

Cessei de encarar o chão.

Olhei para a frente.

Boulevard Saint-Michel.

Foi impressão minha ou a rua parece mais longa do que é?

E eu já caminhava há quase meia hora pela avenida.

Estava em busca do Panthéon.

Eu poderia jurar que ele era aqui perto. 

Então por que é que quanto mais eu ando, mais me parecia que o boulevard se esticava?

O Jardim do Luxemburgo está aqui.

Eu sei que o Panthéon fica aqui à esquerda. Em algum lugar.

Rue de l’Université.

Tomei à esquerda.

— Moça, cuidado! — Um braço me puxou bem em tempo de evitar um ônibus que fez a curva bem rente ao meu rosto.

— Ele estava na contramão! — Fiz apontando a faixa de carros para a moça de rabo-de-cavalo que me puxara e me ajudara a evitar aquela coalisão.

Para a minha surpresa, ela ergueu o dedo indicador.

— O corredor dos ônibus em Paris é sempre contrário ao dos carros! — Ela deu uma piscadela enquanto eu averiguava o que ela tinha acabado de me ensinar sobre a cidade das luzes e que eu não sabia.

— Obrigada, moça! — Fiz procurando-a com o olhar, mas ela tinha desaparecido. 

As pessoas ao meu redor, olharam-me como se eu fosse louca, falando sozinha na rua. Mas tinha uma moça aqui, agora mesmo. De rabo-de-cavalo.

Pfff… deixa para lá.

Uma inspiração profunda.

Expirar pela boca.

Se eu quiser permanecer lúcida em Paris, precisarei respirar fundo.

Mas como respirar bem quando mesmo esse ato de sobrevivência machuca? 

Ergui o rosto. 

Uma gota de suor no meio de outubro.

O vento agitou as árvores, fazendo cair as folhas no chão. Todos se preparavam para o inverno. Quanto a mim, o inverno já habitava o meu coração há muito tempo. Como se a estação de frieza que eu tinha dentro, enfim transpunha as fronteiras do meu corpo e começava a se anunciar de dentro do meu corpo.

Ergui o olhar mais uma vez e senti o vento do outono parisiense empurrar meu braço.

— Ande! — Falei comigo mesma, forçando-me a caminhar por aquele bulevar capcioso que parecia se divertir comigo.
Eu caminhava pela direita, pela esquerda, já tinha visto aquele café algumas vezes. Até mesmo aquela estátua de Buda, à entrada do… Panthéon.

O vento parou de se agitar, eu senti os meus braços abaixarem-se e os meus pés tocarem o chão de Paris novamente.

Como foi que eu chegara ali?

Contemplei a porta de entrada do monumento. 

A minha melhor amiga acenava para mim, sorrindo. Os seus braços quase se chocando contra um moça de rabo-de-cavalo que também sorria para mim.

— Bem em tempo! — fez Magda, a minha amiga; o sotaque russo impregnado do francês e fundindo-se ao sorriso acentuado pelas maçãs-do-rosto marcadas naquele rosto lindo. —Você veio voando?

Eu olhei para os meus braços que se depositavam pouco a pouco ao lado do meu corpo, os meus pés que trocavam o chão que tremia do metrô e o vento que parava de se agitar.

— Eu… eu acho que foi o vento que me carregou…? — Fiz sem sabe ro que repsponder e Magda explodiu de rir.
Eu olhei para a moça de rabo-de-cavalo atrás dela que me deu uma piscadela.

Que força era aquela que operava em Paris? 

Tem algo muito estranho nessa cidade. Definitivamente.

Pois aqui está. Essa foi uma das experiências que me deram a ideia para escrever o Cidade das Mandalas. Foi, digamos, a chama inicial de um processo de transformação muito mais intenso que aconteceu tanto física quanto psicologicamente. 

Hoje eu sei que a minha loucura em Paris era necessária. Como diz Alanis Morissette, “nunca sobreviveremos se não tivermos um pouquinho de loucura”. Mas eu estava apenas tirando de mim os sentimentos que não estavam em coerência com a pessoa que eu queria me tornar. E essa pessoa tem tudo a ver com a missão que eu me dei com a escrita, tanto com a ficção quanto com os autores auto-publicados. 


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