“Eu me jogo do alto e que me atirem no peito.”

Foi o que uma amiga me disse quando eu tomei um chifre de um namorado. Também é o trecho de música de um grupo chamado Teatro Mágico, desde esse dia virou para mim, um pedaço de sabedoria que eu aplico cada vez que publico um livro.
Quando alguém fizer crítica negativa a melhor maneira de lidar com as palavras é agradecer e entender que aquilo não é pessoal. É sobre o que você escreveu. E por diversos motivos, você não é o alvo da crítica. O primeiro deles (entenda de uma vez por todas e sua vida vai melhorar): não é pessoal porque você não é o centro da vida da pessoa.

Entenda algo: você não é importante para o seu leitor. Nem o seu texto. Ninguém quer ler a sua merda (é um best-seller sobre como se tornar um melhor escritor, infelizmente apenas disponível em inglês: Nobody wants to read your shit). Quando o leitor adquire um livro seu, é porque ele quer resolver um problema ou escapar da realidade — nesse caso o problema a ser resolvido é a vida do indivíduo. Além de gastar dinheiro e tempo, ele se depara com um texto cheio de erros, sem nexo, e ainda por cima não entende o que está acontecendo? É óbvio que vai se irritar e dar uma nota ruim.
Tente se colocar no lugar de alguém que leu algo que você escreveu. No mundo em que vivemos, onde tudo é passageiro, sorte sua se quem te ler te conhece pessoalmente. Pode ser até que a pessoa tenha entrado em contato contigo, mas será que ela se lembra? Será que associa a sua pessoa ao texto ruim que leu e que por algum motivo muito mais pessoal dela do que seu, não apreciou?
O escritor de ofício, almejando tornar-se autor só ganha importância quando constrói um relacionamento sólido com o seu leitor. Quando este consegue associar a história que acabou de ler à pessoa do autor e a ninguém mais. Isso se alcança através de recursos estilísticos, narrativos e da “voz” do autor no texto. Daí a importância de criar um relacionamento sólido com seus leitores. Porque ele acabou de gastar dinheiro e tempo de sua vida preciosa com você. Acredite ou não, o autor em formação ainda não é o próximo Stephen King.
Claro que a crítica negativa também pode vir de gente conhecida. Nos dois casos, ela é sempre bem-vinda e positiva, enquanto visar o texto. Se você um dia cruzar com alguém que te critica através do seu texto, agradeça e termine qualquer relação. Essa pessoa não o respeita. Agora se for uma crítica negativa referente ao seu texto, receba-a de braços abertos, convide o seu leitor para tomar chá e converse com ele. Busque entender o porquê da crítica. Guarde esse leitor bem perto de si. Ele diz a verdade e portanto vale ouro.

Um pouco como a psicologia reversa, o sofrimento que conhecemos com a crítica nos tira da nossa zona de conforto e nos obriga a crescer. Coloque na cabeça a imagem de uma carapaça de gafanhoto. Quando o inseto está muito grande, esse exoesqueleto começa a incomodá-lo. Ele é obrigado a abandoná-lo e a viver em grande medo e vulnerabilidade até que seu corpo se fabrique uma nova carapaça. Assim é o crescimento de um escritor e a sua transformação em autor. Ele passa por momentos de grande vulnerabilidade, inevitáveis enquanto está em fase de desenvolvimento até chegar à metamorfose. Igualzinho um adolescente cheio de espinhas na cara antes de virar adulto galã. Todo autor já teve um texto ridicularizado e isso é normal. Lembre-se de que a JK Rowling foi recusada 12 vezes antes de ser aceita por um pequeno editor que quis lhe dar uma chance.
Você acha que ela estaria onde chegou hoje se tivesse se deixado abater por quem lhe disse não? Pior ainda com aquele tipo de advertência: você jamais vai ganhar dinheiro vendendo livros? Aposto que ela pensou “quem está rindo agora?”
Veja assim: a crítica negativa é a melhor maneira de fazer a edição do seu livro. Além de tudo é gratuita! É por isso que quanto mais leitores beta você tiver, melhor. Assim você pode consertar o seu texto antes de publicá-lo. Francamente, agradeça quem lhe faz uma crítica negativa e investigue o porquê.
Um leitor que não gostar, sempre vai ter uma razão. E você pode abordá-lo (é muito fácil entrar em contato atualmente) e perguntar-lhe por que o seu livro recebeu aquela nota 1. Tenho certeza de que o leitor vai ficar muito feliz em te expor os argumentos. Se ele fizer sorrindo, é porque está dando a opinião sincera e se sente valorizado e apreciado pela sua escuta (talvez você tenha ganhado um leitor novo, a semente está plantada). Se ele ficar nervoso, é melhor ainda. Esse tipo de sentimento coloca em evidência o fato de que seu texto está forte o suficiente para tocar e transformar o leitor. Neste caso, saiba que o texto está no caminho certo e das duas uma: a pessoa se transformou positivamente, como você esperava que fosse, mas não estava pronta para aquele tipo de transformação. É o caso, por exemplo, de um homofóbico que lê um texto no qual o herói que ele tanto amava, com o qual tanto se identificava, virou gay. O leitor fica pensativo, se perguntando o que está acontecendo?
Outro cenário é o leitor que se transformou negativamente. Aqui, pode ser que a pessoa não fizesse parte do público-alvo ou estava muito fechada ao angulo de transformação do seu livro.
Neste caso, você pode até ouvir a crítica e tirar algo de bom, mas guarde em mente quem leitor que não faz parte do seu público-alvo não poderá apreciar algo que você escreve.
Existem maneiras de afinar a transformação do seu livro e de se assegurar que ela será positiva. Leia mais no meu artigo.
3 comentários em “Como enfrentar a crítica literária negativa”