Há algumas semanas, eu publiquei um artigo de blog no qual falava que a dissertação argumentativa era um dos meus exercícios intelectuais favoritos. De fato, ele é muito prazeroso quanto para uma pessoa que escreve quanto para quem lê, quando o texto é bem escrito estruturado e argumentado.
Apesar disso, muita gente rala para escrever uma. Isso porque no Brasil, não se aprende a metodologia para tal exercício. Por esse motivo, eu vou desvendar aqui, passo a passo, o exercício assim você não vai mais ter medo quando tiver que escrever uma, seja no vestibular, seja na faculdade.
Primeira coisa a saber: uma dissertação é um exercício de argumentação que visa fornecer uma resposta a um problema definido. Por esse motivo, ele deve se articular em torno do que chamamos uma problemática. A problemática é a pergunta que buscamos responder através do exercício da argumentação que se apresenta na dissertação. OUtro ponto importante a reter antes de começarmos é: a argumentação remonta aos tempos de Roma onde as primeiras técnicas do discurso foram registradas. Como toda peça de discurso, a argumentação existiu primeiro na fala para depois ser transferida para a escrita. Assim, o plano de argumentação apresentado na dissertação deve ser dialético e orgânico, ou seja, os argumentos devel dialogar ente si. A palavra dialética significa:
di·a·lé·ti·ca |ét|
substantivo feminino
1. Arte de raciocinar com método.
2. Lógica.
3. Argumentação sutil.
4. Argumentação engenhosa, dialogada.
“dialética”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/dial%C3%A9tica [consultado em 08-11-2021].
Para começar bem a dissertação é imperativo estabelecer a problemática à qual se quer responder com o seu texto. Por vezes, os avaliadores são bonzinhos e nos dão a problemática mastigadinha. Mas o bom aluno argumentador, consegue extrair a problemática de um tema. E essa para mim é a parte mais difícil. Vejamos como fazer:
No ano de 2001, a FUVEST propôs o seguinte tema de disssertação no vestibular: “A descatracalização da universidade no Brasil”. Antes de começar, é importante uma ressalva: descatracalização???????????? Pois! O neologismo faz parte da brincadeira. Accept that!
Quando eu estava na Sorbonne, tínhamos 4 horas para fazer uma dissertação de seis a oito páginas. Uma dissertação tendo 3 partes, introdução, desenvolvimento e conclusão, a gente costumava dividir uma hora para escrever cada parte, meia hora para achar a problemática e meia hora para escrever um plano detalhado, que é um esqueleto do seu plano argumentativo.
Se quiser fazer o exercício comigo, apanhe uma folha de papel e comece a anotar tudo o que lhe vêm ao espírito quando você lê esse tema. Assim, em meia hora, escreva tudo o que lhe vem à cabeça em relação à temática que foi fornecida. Para mim são entre outros (eu já fiz várias vezes esse exercício): 1) as palavras democratização do estudo no Brasil; 2) o sistema educativo nacional em geral e 3) a evolução na direção de um sistema mais segmentado.
Para mim é fácil chegar nessas fases rapidamente porque eu pratiquei muito o exercício, mas para quem está começando, a cabeça pode rodar. Por isso, tome o tempo para completar bem a sua folha de rascunho com o que aquela temática te traz à cabeça. A partir destas palavras (que você vai ter muito mais porque durante meia hora vai quebrar a cabeça e anotar tudo o que lhe vêm à cabeça sobre o assunto), eu obtenho a seguinte problemática à qual desejo responder com o exercício da minha argumentação:
“Em que o sistema universitário no Brasil é acessível?”
É importante começar por essa formulação “em que…” porque não se trata de uma resposta sim ou não. Este é um exercício de argumentação.
Uma vez que você chegou à sua problemática, você vai montar o seu plano argumentativo.